Salgueiro, Mangueira e Beija-Flor levantam público no 1º dia de desfiles
Ritmos e crenças africanas e História do Brasil foram destaque no domingo.
Seis escolas passaram pela Sapucaí com poucos imprevistos.
Duas delas (Grande Rio e Mangueira) falaram sobre o Descobrimento do Brasil em suas comissões de frente. A cultura africana permeou a maior parte do desfile da Império da Tijuca, mas também foi retratado novamente na Mangueira e no desfile do Salgueiro. Todas as escolas mostraram criatividade na hora de trazer elementos acrobáticos e efeitos especiais. Na São Clemente, até piscinas de plástico subiram nas alegorias. Acrobatas se apresentaram em um canhão humano na Grande Rio. Houve tirolesa na Mangueira e uma artista chegou a "levitar" em uma alegoria do Salgueiro, graças a um truque mecânico.
Sem atrasos, os imprevistos foram pequenos: na Mangueira, um carro alto demais ficou entalado na avenida, e acabou com peça arrancada. No Salgueiro, uma das alegorias soltou fumaça, mas não teve os movimentos comprometidos, e um dos carros, dedicado ao elemento fogo, teve problemas na iluminação. A Beija-Flor fechou os desfiles versando sobre comunicação, com homenagem a Boni, ex-diretor da TV Globo, e muitos famosos.
Veja a seguir o resumo dos desfiles deste domingo:
A escola da Zona Norte do Rio abriu os desfiles com o enredo "Batuk", que mostrou a força do batuque que chegou ao Brasil com os negros africanos e se disseminou em festas. A Império lembrou os ritmos que vieram da África e também apostou em ritmos mais novos, representados pela figura de Chico Science e Nação Zumbi, Filhos de Gandhi e AfroReggae. O desfile falou ainda a formação do samba, do jongo e do maxixe.
Empolgante, a apresentação da escola marcou sua volta ao Grupo Especial, depois de 16 anos no Grupo de Acesso. Ela foi assinada por Júnior Pernambucano, carnavalesco mais jovem entre as 12 escolas do Rio, com 34 anos. No ano passado, ele ajudou a conquistar o título do Grupo de Acesso.
Para comemorar os 200 anos de fundação da cidade de Maricá, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, a Acadêmicos do Grande Rio levou à avenida um samba-enredo poético e diversas surpresas nas alegorias. Além de carros com detalhes articulados e um show de bailarinos, a escola arrancou aplausos do público ao levar, como parte da comissão de frente, um canhão humano, com a participação de um artista chileno profissional.
A cantora Maysa, moradora de Maricá, foi a principal personalidade homenageada pela Grande Rio. O naturalista inglês Charles Darwin, que participou de uma expedição à cidade, inspirou boa parte dos carros alegóricos e fantasias, com alusões à flora e à fauna locais. Uma enorme locomotiva com fumaça e som contou a história do progresso da cidade, que passou a transportar seus produtos agrícolas após a construção da estação de trem. O desfile durou 81 minutos e não apresentou percalços técnicos .
Com o tema "Favela", a São Clemente escolheu um belo samba-enredo e abusou das cores e da criatividade para falar dos hábitos nos morros. Usando muito humor, abordou a pobreza, falou de esperança, justiça social e contou detalhes da história desses locais. Entre os 3.200 componentes pôde se ver detalhes divertidos do cotidiano das comunidades: churrasquinho na laje, pipas, piscininhas de plástico e latas d'água ganharam espaço na Marquês de Sapucaí.
A escola homenageou diversas favelas do Rio em suas alas, com fantasias originais e diferentes uma das outras. A da Rocinha trouxe bastante verde nas roupas de seus integrantes, a da Mangueira tinha a árvore que dá nome ao lugar e a do Complexo do Alemão mostrava postes e fios emaranhados em cada componente. Mais criativa de todas era a que representava o Morro Santa Marta, com a enorme pedra que existe no local e uma alusão ao astro Michael Jackson, que gravou um clipe ali quando esteve no Brasil, em 1996. A escola inteira cantou alto e a plateia acompanhou (
A Mangueira invadiu a avenida com carros alegóricos cheios de truques de iluminação e uma orquestra de tamborins surpresa no show da bateria. Tudo para contar a história das maiores festas brasileiras e tentar conquistar o 20º título da escola. O desfile empolgou o público ao mostrar celebrações tradicionais como a cavalhada e o congo, festas que nasceram do sincretismo religioso, como a reverência à deusa das águas, Iemanjá, e eventos mais recentes, como a Parada Gay.
Grandes festanças locais, como o São João nordestino, a Festa do Boi de Parantins, na Região Norte, e a Festa da Uva, no Sul do Brasil, também apareceram com maestria na Sapucaí. O desfile foi fechado quase com chave de ouro com um carro alegórico em alusão ao Réveillon e, como não podia faltar, uma alegoria dedicada à maior festa do país, o próprio carnaval. Um problema técnico com um dos carros deixou a escola apreensiva, depois que ele ficou entalado na avenida. Mas a questão logo foi corrigida e a Mangueira não estourou o tempo
Com samba-enredo cantado em coro nas arquibancadas, a Acadêmicos do Salgueiro falou da criação do mundo e aproveitou o tema para fazer um alerta sobre a necessidade de preservação da natureza. O público da Marquês de Sapucaí por pouco não anulou a voz dos puxadores do samba cantando mais alto que eles e gritando "É campeã" ao final do desfile.
A comissão de frente trazia os quatro elementos da natureza (fogo, água, terra e ar) representados pelos deuses africanos, mas o melhor efeito veio logo a seguir, no abre-alas, onde uma bailarina parecia levitar em cima do carro alegórico. O carro dedicado à água também chamou a atenção. Bem iluminado e com uma imensa serpente marinha, o azul de toda a alegoria se destacou na Sapucaí e aumentou o brilho da apresentação
A Beija-Flor foi a última a desfilar. A escola de Nilópolis entrou na avenida às 4h21 e levou para o sambódromo a história da evolução da comunicação, com uma homenagem a José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, ex-diretor geral da TV Globo.
Boni desfilou no chão, à frente do último carro alegórico da escola, fantasiado de Chaplin. Literatura, televisão, rádio e internet foram lembrados na Sapucaí. Claudia Raia foi a rainha de bateria da escola. A ala com Boni teve artistas e amigos do empresário e diretor de televisão, muitos estreantes na Sapucaí, como Tarcísio Meira, Glória Menezes, Faustão, Regina Duarte, Cid Moreira e Lima Duarte
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