quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

A funcionária da Vale que alertou sobre o desastre e fugiu de ré em caminhão com 90 toneladas

Trabalhadores que estavam na mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, narram como foi a chegada da avalanche de lama e como conseguiram escapar.

Por Amanda Rossi, BBC — Brumadinho

Ana Paula da Silva Mota, de 30 anos, dirigia um caminhão de minério em uma estrada a apenas 550 metros da barragem quando ocorreu o rompimento. — Foto: VITOR FLYNN/BBC NEWS BRASIL Ana Paula da Silva Mota, de 30 anos, dirigia um caminhão de minério em uma estrada a apenas 550 metros da barragem quando ocorreu o rompimento. — Foto: VITOR FLYNN/BBC NEWS BRASIL 
Ana Paula da Silva Mota, de 30 anos, dirigia um caminhão de minério em uma estrada a apenas 550 metros da barragem quando ocorreu o rompimento. — Foto: VITOR FLYNN/BBC NEWS BRASIL
Há mais de dez dias da tragédia de Brumadinho (MG), os olhos castanhos de Ana Paula da Silva Mota ainda passam grande parte do tempo opacos e ausentes, como se estivessem revendo as cenas que ela viveu a partir das 12h28 de 25 de janeiro.
Naquele exato minuto, a motorista dos megacaminhões da Vale olhou em direção às montanhas que circundam a mina Córrego do Feijão e viu uma imensa avalanche emergir do local onde ficava a barragem principal, a apenas 550 metros de onde estava.
"Eu estava de frente para a barragem. Acho que fui uma das primeiras pessoas a ver (a avalanche). Não dava para acreditar", diz Ana Paula, de 30 anos.
Em poucos segundos, a encosta verde de 87 metros de altura, que sustentava 11,7 milhões de toneladas de rejeito de minério de ferro, cedeu e se transformou em uma onda marrom densa. Tinha mais de 300 metros de comprimento e, em alguns pontos, até 20 metros de altura. Segundo o Corpo de Bombeiros, a velocidade inicial era de 80 quilômetros por hora.
"A onda veio muito rápido. Mas também parecia que estava em câmera lenta. É algo muito estranho, não consigo explicar", fala Ana Paula, mãe de uma menina de 8 anos e um menino de 3 anos.
O local onde a funcionária da Vale estava era o trecho final de uma estrada de terra que descia desde a área de extração de minério, no alto, até o terminal de carregamento do trem, na parte mais baixa do complexo mineiro, muito perto da barragem.
Nessa estrada, Ana Paula dirigia o gigantesco e potente Fora de Estrada 777, veículo usado para transportar minério, com cinco metros de altura e 11 de comprimento - o pneu, por exemplo, é mais alto que a motorista. Na sua caçamba, havia 91 toneladas de minério, que seriam despejados nos vagões do trem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário