Após atender ocorrência de homicídio na Grande Natal, policial civil adota cinco filhos da vítima
Em 2018, a agente Flaviana Bezerra, da Divisão de Homicídios foi chamada após assassinato de um homem em Parnamirim. Ela acabou adotando duas crianças e três adolescentes, que presenciaram o crime.
Por Bruno Vital, G1 RN
Flaviana formou uma família após ocorrência policial — Foto: Cedida
5 de agosto de 2018. O que parecia ser mais um dia comum de plantão na
Divisão de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) em Natal acabou se
tornando um divisor de águas na vida da policial civil Flaviana Bezerra.
Foi neste dia, durante as primeiras investigações de um crime, que,
mesmo sem saber, ela começava a adotar seus cinco filhos.
Flaviana lembra com clareza daquele 5 de agosto de 2018. Era domingo e a
agente acabara de voltar das férias para o trabalho. "Esse foi um dia
muito difícil porque meu pai teve uma suspeita de infarto e por causa
disso meu irmão também passou mal. Meus colegas queriam que eu não fosse
trabalhar para ficar com ele, mas meu pai melhorou e eu fui para o
plantão", conta.
Às 22h, Flaviana e uma equipe da DHPP foram acionadas para uma
ocorrência em Parnamirim, na Região Metropolitana de Natal. Um homem
havia sido assassinado a tiros na frente do neto e de cinco filhos. Eram
três crianças, dois adolescentes e um bebê de 11 meses.
"Quando estávamos na cena do crime apareceu uma mulher dizendo que seis
crianças estavam chorando por causa do pai numa casa próxima. Fui até
eles com minha equipe e eles estavam com medo, diziam que a gente era do
Conselho Tutelar e que iria separá-los", conta. As crianças e
adolescentes que viram o pai ser assassinado também perderam a mãe, três
anos antes, em 2015. Ela morreu durante uma cirurgia.
Nesse momento, Flaviana começava a se tornar mãe, algo que nunca
planejou. Ainda na noite do crime, em agosto de 2018, a policial foi até
a casa onde as crianças moravam e se impressionou com o que viu. "Tinha
muito lixo na casa e não tinha um grão de comida. Eles trabalhavam
catando lixo na rua e estavam passando fome", conta.
Comovidos com a situação, os policiais da DHPP levaram as crianças para
a casa de uma tia, que não as recebeu muito bem, segundo Flaviana.
"Eles também não poderiam ficar lá porque a tia não tinha condições e
por outros motivos. Também não podiam ficar na casa onde moravam porque o
assassino do pai poderia morar na região", explica.
Dos seis, cinco são irmãos. O mais novo do grupo tinha 11 meses e é
filho da mais velha, que tinha 15 à época. Eles permaneceram na casa da
tia por algumas semanas. Flaviana escreveu um texto pedindo doações e
divulgou no grupo interno de WhatsApp da Polícia Civil. Com o dinheiro
arrecado, a agente comprou alimentos e deixou na casa da tia das
crianças.
No entanto, o texto que Flaviana havia compartilhado entre os colegas
de profissão vazou do grupo da corporação e as doações aumentaram
consideravelmente. O recurso arrecadado daria para pagar o aluguel de
uma casa para os seis durante um ano. Flaviana consultou um promotor
para tratar juridicamente da possibilidade.
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